E tudo mudou... a mídia também


Até chegar ao presente momento da história, a humanidade passou por diversos progressos que, em cada época, marcaram definitivamente as sociedades dentro do seu contexto. Cada avanço que os homens davam na direção de seu desenvolvimento foi indiscutivelmente importantes para o sucesso dos avanços posteriores.
Analisando-se a história da humanidade e as principais transformações ocorridas ao longo desse período, percebe-se que todos os grandes avanços humanos tiveram como base a capacidade de comunicação. A comunicação fornece os meios necessários para que as transformações ocorram. Assim, pode-se dizer que ela teve papel fundamental nas mudanças históricas.
O homem tornou-se um ser social a partir do instante em que conseguiu estabelecer linguagens lógicas. Nesse sentido, o primeiro grande marco da história da humanidade foi o surgimento da escrita (4 mil a.C.). Nas sociedades primitivas, há milhares de anos atrás, a comunicação limitava-se à linguagem oral. A escrita tornou-se a forma mais sofisticada de comunicação e serviu como alicerce para as invenções seguintes, além de permitir deixar, para as próximas gerações, os conhecimentos adquiridos.
A escrita teve como base o alfabeto. “Por volta do ano 700 a.C. ocorreu um importante invento na Grécia: o alfabeto.” (CASTELLS, 1999, p.413). Ele constitui a base para o desenvolvimento da filosofia ocidental e da ciência e “no ocidente proporcionou a infra-estrutura mental para a comunicação cumulativa, baseada em conhecimento.” (Idem). De acordo com Castells, esta invenção “tornou possível o preenchimento da lacuna entre o discurso oral e o escrito.” (Idem).
Esse momento histórico foi preparado ao longo de aproximadamente 3 mil anos de evolução da comunicação oral e não-alfabética.
Após a escrita, o destaque foi o invento do papel, por volta de 105 d.C. pelos chineses, que serviu de suporte para o posterior advento da imprensa. Outro marco histórico foi em 1448, com a criação da impressora pelo alemão Johannes Gutenberg, o que o transformou em um dos mais importantes personagens da história do segundo milênio. A possibilidade de impressão em larga escala democratizou a comunicação. Até então, a possibilidade de se obter um livro era praticamente inexistente. Os livros eram manuscritos e se restringiam às bibliotecas dos mosteiros. Com a impressora, os escritos deixaram de ser artesanais e passaram a ser produzidos em larga escala. O invento de Gutenberg estimulou a busca pelo conhecimento e aumentou o número de pessoas alfabetizadas. A reprodução das informações em larga escala é a base da comunicação de massa.
Ainda, segundo Castells, a alfabetização só se difundiu após a difusão da imprensa de massa. A mesma opinião é manifestada por Lyon. “O desenvolvimento da escrita fez com que as gerações precedentes estabelecessem relações em grande escala, o que foi ampliado, e muito, pela imprensa.” (2005, p.75).
A imprensa escrita foi, por muitos anos, a principal forma de comunicação, mas tinha como barreira o analfabetismo, o alto custo e o tempo, pois a mensagem demorava até chegar ao receptor. Assim o homem precisava desenvolver uma mídia que vencesse essas limitações.
Foi assim que surgiu um novo marco na história da comunicação: o rádio. Ele permitiu que a mesma mensagem chegasse instantaneamente para várias pessoas. Como sua forma de transmissão e recepção necessitava apenas de uma estação emissora e aparelhos de recebimento, a mensagem podia chegar facilmente às pessoas, inicialmente em suas casas e, logo mais, com o surgimento de aparelhos portáteis, a qualquer parte a que esse aparelho fosse levado.
Mas, sem dúvida, um dos fatos mais significativos foi a criação da televisão. “O que a TV representou, antes de tudo, foi o fim da Galáxia de Gutenberg, ou seja, de um sistema de comunicação essencialmente dominado pela mente tipográfica e pela ordem do alfabeto fonético.” (CASTELLS, 1999, p.417).
Sobre a importância da televisão, Castells afirma que “é a presença de fundo quase constante, o tecido de nossas vidas [...] Vivemos com a mídia e pela mídia.” (Idem, p.419). O autor ressalta que o consumo da mídia chega a ser a segunda maior categoria de atividade humana depois do trabalho, e é atividade predominante nas casas. Com relação à TV, ele cita dois pontos fundamentais:
[...] alguns anos após seu desenvolvimento a televisão tornou-se o epicentro cultual de nossas sociedades; e a modalidade de comunicação da televisão é um meio fundamentalmente novo caracterizado pela sua sedução, estimulação sensorial da realidade e fácil comunicabilidade, na linha do modelo do menor esforço psicológico.(1999, p.418).

Para Castells, a mídia é o elemento-chave da sociedade contemporânea. Ele diz que “a mídia é a expressão de nossa cultura, e nossa cultura funciona principalmente por intermédio dos materiais propiciados pela mídia.” (1999, p.422). Mesmo com toda essa importância, ele reconhece que as audiências não são tão passivas como se supunha anteriormente. Foi principalmente a partir dos anos 80, com a multiplicação dos canais do TV, que o público demonstrou o seu poder. A TV começa a se diversificar e a audiência escolhe seus programas, tornando-se mais seletiva. A mídia passou a focar um público específico, individualizado.
Na década de 90 ocorreu outro avanço, o desenvolvimento da TV a cabo. Aumentou-se o número de canais à disposição dos telespectadores e segmentaram-se ainda mais os públicos. Mas a principal característica, conforme Castells, é o fim da audiência de massa. Embora maciça em número de espectadores, não é mais um meio de massa em termos de simultaneidade e uniformidade da mensagem recebida.
Já no início do século XXI a televisão atinge o ápice de seu avanço chegando em formato digital. Traz como vantagens a possibilidade de interação, além de melhoria na qualidade de som e imagem. No Brasil, a televisão digital foi inaugurada no dia 02 de dezembro de 2007 na cidade de São Paulo, mas a estimativa é que demore até 10 anos para se popularizar.
Assim, o surgimento e desenvolvimento dos veículos de comunicação foi (e continua sendo) conseqüência dos períodos culturais vividos pela humanidade durante sua trajetória histórica. A esse respeito, Santaella (2004) indica a formação de seis eras culturais:

Cultural oral: Período da oralidade, surgimento da fala.

Cultura escrita: Atribuição de significados a desenhos.

Cultura impressa: Impressão de escritos em larga escala. Várias cópias de um mesmo documento. Até então os registros eram feitos de forma artesanal. Grande diferença social entre nobreza e massas.

Cultura de massas: Período relativo à difusão, em grande escala, dos meios de reprodução tecnológicos, como fotografia, cinema e rádio. Mas foi principalmente com a televisão que o conceito de cultura das massas se solidificou. Consumo massivo de informações possibilitada pelos veículos de comunicação. A audiência apenas recebe informações. Não há interação. As diferenças entre cultura erudita e de massa começam a ficar tênues.

Cultura das mídias: Caracterizada pelo surgimento de equipamentos que possibilitaram um consumo individualizado, como fax, xerox, fita cassete, aparelhos portáteis de som, TV a cabo, revistas e rádios segmentados. Apesar de visar públicos específicos, usava as mesmas dinâmicas vigentes na cultura de massas.

Cultura digital: Denominada de cibercultura, surge com a popularização de computadores pessoais com acesso à internet. Os espectadores também são usuários. Interação com a máquina. Cultura da velocidade. Criação de hiper-redes multimídia de comunicação interpessoal. Convergência de todas as mídias no formato digital.

REFERÊNCIAS
CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 10.ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2006. 1 v. 698p.
LYON, David. Pós-modernidade. São Paulo: Paulus, 2005. 131p.
SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus. 2003. 357 p.