O mundo em transformação


A humanidade está passando por um momento singular de sua história. Evidencia-se uma nova era, onde a ruptura com os antigos paradigmas está causando grandes impactos na sociedade. O mundo vivencia processos de mudanças que ocorrem em ritmo cada vez mais acelerado. Estas mudanças transformam o dia-a-dia das pessoas em todas as esferas, seja no trabalho, educação, lazer, acesso à informação, etc. A globalização, o rápido avanço da tecnologia, o advento do computador, do celular, e principalmente a internet mudaram radicalmente, e para sempre, a vida humana.

Nos últimos 50 anos, a sociedade evoluiu mais do que em todos os séculos anteriores em termos de tecnologia de informação e comunicação. De acordo com Castells. No fim do segundo milênio da Era Cristã, vários acontecimentos de importância histórica transformaram o cenário social da vida humana. Uma revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação começou a remodelar a base material da sociedade em ritmo acelerado. (1999, p.39).


Na visão de Castells, “a vida é uma série de situações estáveis, pontuadas em intervalos raros por eventos importantes que ocorrem com grande rapidez e ajudam a estabelecer a próxima era estável.” (1999, p.67). Nesse sentido é correto dizer que o momento atual sugere uma nova era, já que no final do século XX verificou-se um desses raros intervalos na história. “Um intervalo cuja característica é a transformação de nossa ‘cultura material’ pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação.” (Idem). As mudanças advindas desde então induzem um padrão de descontinuidade nas bases materiais da economia, da sociedade e da cultura.
Diferente de outras revoluções que marcaram a história da humanidade, como a Revolução Industrial do século XVIII, “o cerne da transformação que estamos vivendo na revolução atual refere-se às tecnologias de informação, processamento e comunicação.” (Idem, p.68, grifo do autor). O autor compara a importância da tecnologia da informação desta revolução com as novas fontes de energia da revolução industrial.
Segundo Lima, o atual processo de contínuas transformações obriga os indivíduos a repensarem suas relações com a própria realidade. “Nossa forma de conhecer, aprender e atuar no meio ambiente está sofrendo drásticas transformações, nos obrigando a repensar o nosso modus operandi e a forma que decodificamos as informações que recebemos em nossas relações com o meio.” (2000, p.1). Ele acredita que o ser humano precisa aceitar e se adequar à nova era que está em constante mudança.

É, sem sombra de dúvidas, um mundo diferente este em que estamos vivendo. Abandonamos um status quo conhecido e enveredamos em um novo território sem bússola e sem saber ao certo para onde estamos indo e quando vamos chegar. A única certeza que temos é que a mudança será parte integrante de nosso dia-a-dia e que teremos que aceitar esta realidade fragmentada em que não existe mais a grande imagem para nos guiar. (Idem, p.4).

Ainda de acordo com o mesmo autor, as transformações da nova sociedade ocorrem em escala exponencial, fazendo com que os saberes de poucos anos atrás se tornem descartáveis. “Vivemos tempos em que um conhecimento de 10 anos atrás pode ser considerado arqueológico, tal a distância entre o mesmo e as acelerações de mudanças em nossa sociedade.” (Idem, p.7). As mudanças que vêm ocorrendo nas últimas décadas são tão constantes que fica praticamente impossível fazer previsões. “A nova sociedade se redesenha diariamente (...) fazendo com que não possamos mais definir, a priori, as tendências de nossa evolução.” (Idem, p.11, grifo do autor).
Lima diz que, devido à simultaneidade dos fenômenos atuais e a intensificação das mudanças, o mundo passa da evolução linear para uma re-evolução contínua. Antes, as mudanças aconteciam em proporções menores e levava certo período entre uma transformação e outra, o que permitia tempo para as pessoas se adaptarem. O mesmo não acontece na esfera atual.

Com a compressão do intervalo entre cada invenção, já não existe tempo hábil para que possamos esperar que o ambiente social possa “digerir” o novo e “acomodar” a tecnologia e o conhecimento que chegam na sociedade, minimizando ou suavizando seu impacto por fazer uso do tempo como elemento amortecedor da mudança. (Idem, p.13).

A mesma opinião é expressa por Dizard, que afirma que

A atual transição para um ambiente de nova mídia difere das experiências passadas, quando as tecnologias surgiam lentamente. A introdução de formas de antigas tecnologias de mídia como o jornal impresso, o rádio e a TV foi mais disciplinada. Um tempo suficiente se passava entre uma e a próxima, permitindo separar as conseqüências econômicas e sociais das mudanças. Entretanto, agora, a mídia deve lidar com a convergência de muitas tecnologias novas, que estão chegando velozmente e com uma urgência que nos dá pouco tempo para avaliar a maneira como elas podem melhor se adaptar a um padrão já complexo de mídia.
(2000, p.225).

Lyon denomina a atual esfera social de pós-modernidade. Para ele, este termo “se refere, acima de tudo, ao esgotamento da modernidade.” (2005, p.16). Muitos são os nomes dados por autores para explicar o novo contexto vivido pela humanidade. O que todos concordam é que a nova realidade começou a emergir devido ao rápido avanço das tecnologias de informação e comunicação. Para Castells “a tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas.” (1999, p.43, grifo do autor). Ele diz ainda que:
[...] logo que se propagaram e foram apropriadas por diferentes países, várias culturas, organizações diversas e diferentes objetivos, as tecnologias da informação explodiram em todos os tipos de aplicações e usos que, por sua vez, produziram inovação tecnológica acelerando a velocidade e ampliando o escopo das transformações tecnológicas bem como diversificando suas fontes. (Idem,
p.43-44).

Nesse sentido, é possível dizer que as tecnologias traçam o destino das sociedades, pois incorporam a sua capacidade de transformação. As ferramentas tecnológicas que a sociedade dispõe, ou não, irão marcar definitivamente suas características e sua possibilidade, ou não, de realizar certas atividades sociais, influindo diretamente na sua cultura.

Sem dúvida, a habilidade ou inabilidade de as sociedades dominarem a tecnologia e, em especial aquelas tecnologias que são estrategicamente decisivas em cada período histórico, traça seu destino a ponto de podermos dizer que, embora não determine a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta) incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos que as sociedades, sempre em um processo conflituoso, decidem dar ao seu potencial tecnológico. (Idem, p.44-45).

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REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura. 10.ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Paz e Terra, 2006. 1 v. 698p.

LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas ampliadas: o livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. 3.ed. Barueri, SP: Manole, 2004. 371 p.

DIZARD, Wilson P. A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação. 2.ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2000. 324 p.

LYON, David. Pós-modernidade. São Paulo: Paulus, 2005. 131p.