Responsabilidade Social e Opinião Pública


Já que são os jornalistas os responsáveis por repassar as informações à sociedade, é fundamental que se reflita sobre sua responsabilidade social e seu poder de influir na opinião pública. Temas como ética também devem ser analisados para que seu uso não seja empregado apenas para preencher manuais de conduta profissional.

No Brasil, são pouco mais de 20 anos de jornalismo “livre”, não mais censurado politicamente, mas sofrendo constantes influências econômicas. Não é novidade que, muitas vezes, o jornalismo deixa-se conduzir por segundos interesses, negligenciando seu papel social de democratizar. Na constante luta pela atração da audiência, vale praticamente tudo. E assim, o debate sobre a responsabilidade social da mídia vem tornando-se mais constante.

Como aborda Moretzsohn (2002), a teoria da responsabilidade social surgiu nos Estados Unidos em 1947, ano em que foi produzido um relatório que, entre outras abordagens, recomendava à imprensa relatar a verdade sobre os fatos. O documento foi criticado e uma questão veio à tona: o conceito de responsabilidade social está sujeito a diferentes interpretações.

A responsabilidade da mídia, para muitos, está associada a conceitos como “o povo tem direito de saber” e “a imprensa é representante do público”, principalmente quando se trata de “fiscalizar” ações de empresas privadas e órgãos públicos. Daí surgiu a imagem do jornalismo como o defensor do cidadão.

De acordo com Karam, a temática do direito social à informação “só tem sentido se for conectada a conceitos e valores como Liberdade.” (1997, p.15). O autor destaca que apenas através da liberdade é possível falar em informação como direito de todos e em jornalismo como a maneira pela qual é possível o acesso ao que acontece no mundo.

Para que o cidadão possa ter participação ativa na sociedade, é indispensável que ele esteja bem informado. Karam destaca que “o acesso a esta produção diária da humanidade sempre trouxe mais possibilidade de desalienação.” (Idem, p.24). Por esse motivo, a informação é tão valorizada como fonte de lucro e expressão de poder.

No Brasil é relativamente nova a questão da liberdade de imprensa. Basta analisar a história política do país para constatar que o mesmo sofreu longos períodos de censura. Foi com a Constituição de 1988 que foram estabelecidos os fundamentos legais com relação ao direito à informação.

Existem órgãos, como a ABI, Associação Brasileira de Imprensa, e a ANJ, Associação Nacional de Jornais, que desenvolvem ações voltadas à busca da liberdade de expressão e de imprensa e ao livre exercício da atividade jornalística. Iniciativas apoiadas pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que também considera a liberdade de imprensa um requisito básico para o processo de democratização de um país.

Na visão de Karam (1997), para que seja garantido o efetivo direito social à informação deve-se levar em consideração dois pontos fundamentais: democratização dos meios de comunicação e mudança da noção ética da profissão. Esse último ponto, a questão da ética, sempre foi pauta de debates acerca da atividade jornalística e é um conceito fundamental ao se tratar da questão da responsabilidade social do jornalismo.

Antes de entrar na questão da ética profissional do jornalista é plausível que se fale que o conceito de ética perpassa os séculos e muitas são as suas definições. Foi Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.) que introduziu os estudos acerca desta temática. É correto afirmar que ética é a parte da filosofia que se dedica ao estudo dos valores morais e princípios ideais da conduta humana.

A ética diz respeito às práticas cotidianas perante a sociedade. Ao contrário da lei que impõe procedimentos, a ética está relacionada com o livre arbítrio, com a consciência individual e os compromissos morais do ser humano. Aplicando o conceito de ética ao comportamento profissional, pode-se dizer que ética é o conjunto de princípios morais que devem ser observados no exercício de uma profissão.

Em 1987 o Congresso Nacional aprovou o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que entrou em vigor em março daquele ano. O documento fixa as normas que devem orientar a atuação profissional do jornalista nas suas relações com os demais membros da sociedade.

A temática da ética é considerada tão importante que a maioria das universidades sustenta uma disciplina relacionada à questão em suas grades curriculares. Além disso, grande parte dos principais veículos de comunicação do país possuem manuais de redação que abordam a ética.

Em entrevista concedida ao Jornal da ABI, em outubro de 2006, o editor-chefe do jornal Estado de São Paulo, Flávio Pinheiro, salientou que “a ética na imprensa é construída todo dia.” (Disponível na internet. URL: http://http://www.abi.com.br/. Acesso em 23 de março de 2008). Ele acredita que o jornalismo deve ser parte atuante no esforço pela democracia e que a concentração das informações nas mãos de poucos é uma questão preocupante.

Para Bucci (2000) a noção de ética jornalística perpassa pelo conceito de verdade, o que obriga o repórter a averiguar as diversas facetas de um mesmo fato, ao mesmo tempo em que assume uma postura de isenção, deixando que o público tire suas próprias conclusões sobre a notícia.

O autor ressalta que a audiência espera um jornalismo confiável e comprometido com os fatos. Ele cita que na ponta da pirâmide não está a imprensa ditando o que o público deve receber. Está sim o próprio público, ao qual o jornalismo é subordinado.

Um ano após lançar o livro Sobre ética e imprensa, Bucci concedeu entrevista ao jornal Correio Braziliense, em 28 de janeiro de 2001, abordando a temática do comprometimento dos profissionais de imprensa com a ética. Ele revelou que a busca pela verdade é a base de qualquer idéia que se possa ter sobre divulgação de notícias. E esse é ponto de partida para a ética jornalística. Dessa busca surge o pacto de confiança do público com o veículo informativo. E como já se sabe, quando o veículo perde a credibilidade está sujeito ao desaparecimento.

De acordo com Vergílio, um erro do jornalismo é não gerar conflitos de idéias. Para a pesquisadora, o equívoco do jornalismo é o de deixar de induzir o público a um pensamento mais crítico, já que tornou-se um mero distribuidor de informações. Ela defende que o jornalismo “não deve ser encarado como um 'negócio', como é visto nos grandes conglomerados da mídia ou com a crescente aproximação entre o jornalismo e o entretenimento.” (Disponível na internet. URL: http://http://www.canaldaimprensa.com.br/. Acesso em 23 de março de 2008). Ainda na visão da autora, o papel social do jornalismo seria, então, o de posicionar-se a favor da democracia, educando seu público para a cidadania.

É indispensável que o jornalista se comprometa com todas estas questões abordadas. A preocupação com a objetividade, a imparcialidade, a verdade e a ética profissional devem ser constantes. Somente assim o jornalismo conseguirá fazer valer a sua responsabilidade social.

Como é fácil de se observar, ainda mais no Brasil, a mídia tem forte poder de influir sobre a opinião pública, chegando até mesmo, em alguns casos, a mudar o curso da história. Não é correto dizer que o jornalismo manipula totalmente seu receptor. Este recebe influências do meio social em que vive e tem sua própria bagagem histórica, ideológica e cultural. Mesmo assim, o jornalista tem o poder de consolidar idéias do cidadão, ou até mesmo mudá-las.

Desta maneira, constata-se que não basta apenas defender a liberdade de imprensa. É necessário que se aborde a responsabilidade social, a ética e a influência na opinião pública enquanto conceitos norteadores da atividade jornalística, pois como observa Karam, esses temas implicam na “potencialidade de intervir no futuro social da humanidade.” (1997, p.25).
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REFERÊNCIAS
MORETZSOHN, Sylvia. Jornalismo em “tempo real”: o fetiche da velocidade. Rio de Janeiro: Revan, 2002.
KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus Editorial, 1997. 147 p.
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Cia. das Letras, 2000. 245 p.
______. A ética e as etiquetas. Correio Braziliense. Brasília, 18 jan. 2001. Disponível na internet. URL: http://www.correiobraziliense.com.br/. Acesso em 20 de março de 2008.
VERGÍLIO, Vivian. Dependa da flexibilidade. Disponível na internet. URL: http://www.canaldaimprensa.com.br/. Acesso em 23 de março de 2008.