O Brasil no novo contexto


Formalmente o Brasil faz parte da Sociedade da Informação desde 15 de dezembro de 1999, quando o então governo federal anunciou investimentos de cerca de R$ 3,4 bilhões na internet brasileira, durante quatro anos. O Programa Sociedade da Informação foi lançado através do Decreto n° 3.294/99, a sua coordenação está a cargo do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e seu detalhamento sob responsabilidade de um Grupo de Implantação, composto por representantes do governo, setor privado, comunidade acadêmica e terceiro setor.

No ano 2000, produziu-se no Brasil o Livro Verde, que é uma proposta do Programa Sociedade da Informação no Brasil (SocInfo). Este é um documento que reúne e organiza estudos sobre a realidade brasileira, apresentando as diretrizes de ação para a constituição da Sociedade da Informação no país. O Livro Verde servirá de base para a elaboração do Livro Branco, que será um plano definitivo de atividades para a implantação da nova sociedade no Brasil.

Considera-se que o país entrou com atraso na nova era, já que em outros países o salto tecnológico aconteceu no início da década de 90. Para Wainberg “são por demais evidentes os sinais de que atrasos eventuais na adequação do país às novas tecnologias de comunicação e informação significarão passo em falso rumo ao futuro.” (2000, p.13).

Sobre a expansão da internet no Brasil, Takahashi afirma que

A Internet brasileira teve grande impulso, primeiramente na comunidade cientifica e, logo após, como plataforma de expansão do setor privado, estando aberta também a serviços de natureza comercial desde 1995. Nas telecomunicações, houve privatização de todo o sistema brasileiro e a criação da Agencia Nacional de Telecomunicações (Anatel), fatores que estão permitindo maior e mais rápida disponibilidade de acesso aos meios de comunicação. (2002, p.23).

Takahashi analisa que a entrada do Brasil na Sociedade da Informação é possível, pois “existe uma sofisticada base tecnológica instalada no País e um considerável contingente de recursos humanos qualificados, abarcando desde pesquisa e desenvolvimento até fomento a empreendimentos.” (Idem). Dessa maneira, o Brasil possui os requisitos necessários da nova era.

O País dispõe, pois, dos elementos essenciais para a condução de uma iniciativa acional rumo à sociedade da informação. E a emergência do novo paradigma constitui, para o Brasil, oportunidade sem precedentes de prestar significativa contribuição para resgatar a sua dívida social, alavancar o desenvolvimento e manter uma posição de competitividade econômica no cenário internacional. (Idem).
É importante observar que a entrada do Brasil no novo contexto não é uma ação fácil, já que o país é marcado por profundos contrastes e desigualdades sociais. Mas Takahashi destaca que todos os países encontram, ou encontraram dificuldades no seu caminho rumo à sociedade da informação, pois o caminho é marcado por oportunidades e riscos. A certeza é que “todos os países caminham, voluntária ou involuntariamente, rumo à sociedade da informação.” (Idem, p.23).

Falando sobre a exclusão digital, Melo observa que a exclusão não é um problema comunicacional, é sim um problema de natureza sócio-econômica, um problema político. Ele diz que a exclusão existe desde o aparecimento da mídia e continua com a cibermídia. “Qualquer sociedade que possui excluídos do bem-estar social, evidentemente conta um grande número de excluídos midiáticos.” (2002, p.37).

Para Melo, a sociedade da informação tem prós e contras. Como aspecto positivo ele cita a geração de empregos, a socialização do conhecimento, a democratização cultural e otimização do tempo livre, além de na esfera política, fortalecer a cidadania através das informações que circulam na web. Como aspectos negativos, o autor cita a monopolização econômica e o perigo da privatização do conhecimento. De acordo com ele, a sociedade da informação tem atuado como instrumento que amplia o distanciamento entre classes e povos. “Estamos falando de uma muralha digital entre o norte e o sul, entre pobres e ricos e, por outro lado, também, entre povos super-informados e sub-informados.” (Idem, p.40).

Sobre esta questão Peruzzo diz que “o acesso é desigual gerando novas categorias sociais, como as dos conectados e não conectados, dos incluídos e dos excluídos do acesso às redes digitais.” (2002, p.46). Por outro lado, a autora acredita que um ponto positivo da internet é que

[...] traz a possibilidade de alterar o sistema convencional de tratamento da informação, antes atividade por excelência concentrada nos agentes profissionais vinculados à mídia tradicional, ao viabilizar a produção de conteúdos endógenos e sua transmissão, sem fronteiras, pelos próprios agentes sociais. (Idem, p.46).

Ela diz ainda que a vantagem das pessoas emitirem conteúdos de maneira ilimitada e sem controle externo, como na mídia tradicional, é “o grande potencial revolucionário que o mundo coloca a serviço da humanidade.” (Idem, p.50). Mas para que este estágio seja alcançado ainda há um longo caminho a ser percorrido rumo ao alcance de todos à tecnologia. Peruzzo observa que

[...] tornar a Internet de todos para todos, coerentemente com o espírito do Livro Verde, implica criar condições para o acesso público dos cidadãos às redes digitais, porém não apenas o acesso aos suportes tecnológicos necessários, mas também a capacitação das pessoas para tornarem-se usuárias ativas, ou seja, não somente receptoras, mas também emissoras de conteúdos. (2002, p.50, grifo do autor).

Barbosa expressa a mesma opinião quando diz que a questão não é apenas colocar a tecnologia ao alcance de todos, “é preciso que os usuários tenham nível de alfabetização suficiente para poder responder aos princípios de uma interatividade e de uma real fluidez da comunicação.” (2002, p.120).

Apesar das diferenças econômicas e sociais do Brasil, pode-se dizer que o país, aos poucos, está aderindo às novas tecnologias de informação. Isso deve-se a esforços de várias organizações que estão levando o computador e a internet ao alcance de um número cada vez maior de brasileiros. Na prática, os resultados podem ser vistos, já que a cada ano a porcentagem de pessoas conectadas aumenta.

Para Wainberg (2000), o Brasil começa a embarcar conscientemente em direção às formas competentes de conexão com o mundo através do surgimento da internet em 1989, e da internet 2, em 1992, sendo que a não adesão ao novo contexto seria um erro estratégico. Segundo estatísticas apresentadas pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, 21,43% dos domicílios brasileiros possuem acesso à internet atualmente.
Dados atuais sobre a posição do Brasil no mundo, e nas Américas, por número de hots, podem ser encontradas no site do Comitê Gestor da Internet no Brasil, http://www.cgi.br

Um último ponto a ser analisado é que, além de suas residências, as pessoas possuem fontes externas de acesso à internet, como a escola e o trabalho, por exemplo. Isso é um fator determinante no crescimento do consumo da internet no Brasil. Mais do que nunca o homem recorre à tecnologia como auxiliar na busca pelo conhecimento que necessita. Já que cresce as possibilidades de comunicação, bem como o seu acesso é cada vez maior, aumenta a responsabilidade dos profissionais de comunicação, principalmente dos jornalistas, que são os mediadores entre as informações e o público receptor das mensagens.
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REFERÊNCIAS
Disponível na internet. URL: http://www.cgi.com.br. Acesso em outubro 2007
WAINBERG, Jacques A. Sociedade da Informação e o Brasil. In: KOVARICK, Adriana Coelho Borges. Tendências na Comunicação. Porto Alegre: L&PM, 2000.
PERUZZO, Cecília M. Krohling. Sociedade da Informação no Brasil: desafios de tornar a internet de todos para todos. In: PERUZZO, Cecília, BRITTES, Juçara (Org). Sociedade da Informação e Novas Mídias: participação ou exclusão?. São Paulo: INTERCOM, 2002.
BARBOSA, Marialva. Revolução, Espaço e Tempo: breves reflexões sobre um mundo tecnológico. In: PERUZZO, Cecília, BRITTES, Juçara (Org). Sociedade da Informação e Novas Mídias: participação ou exclusão?. São Paulo: INTERCOM, 2002. 139 p.
MELO, José Marques de. A muralha digital: desafios brasileiros para construir uma sociedade do conhecimento. In: PERUZZO, Cecília, BRITTES, Juçara (Org). Sociedade da Informação e Novas Mídias: participação ou exclusão?. São Paulo: INTERCOM, 2002. 139 p.
TAKAHASHI, Tadao. Sociedade da Informação. In: PERUZZO, Cecília, BRITTES, Juçara (Org). Sociedade da Informação e Novas Mídias: participação ou exclusão?. São Paulo: INTERCOM, 2002. 139 p.